vendredi 17 juin 2016

A importância dos bidões

Praia, Ilha de Santiago. 
Seco. Tudo é seco.
Alguns aqui até pensam viver em Marrocos.
Mas, Cabo Verde não é Marrocos.
Olha para a minha casa. Um par de horas por dia a acácia dá alguma sombra as nossas cabras (um destes dias há de ser para nossos filhos e, mais tarde, para nós).
O mar? O mar é longe filho. O mar já foi-se embora e não vai voltar tão cedo. Nem as nuvens. 
Filho, mantém um olho sobre a linha do horizonte. Ela é fonte p'ra tudo e p'ra seu futuro também.
 'ta bem? Vá la menino, mantém esperança. Pensa na Oji, e deixa amanha p'ra amanha
Olha, O Dino desenhou peixe. É peixe!
O Dino também quer uma acácia ao lado de sua casa.
Os bidões estão ai em ordem de em batalha, prontos para ser enchidos. 
Dino, em breve você terás o seu acácia.
Nunca falaste dum papaeira (ou dum mamoeiro), certo?
A capuchinha vermelha, a tua vizinha, anda também a procura de agua. 
O Lobo Mau (A falta de agua), podes crer, não vai ganhar essa batalha. Ela é muito esperta. 
Alias, toda a gente aqui anda a procura de agua:
O rapaz delgado de bidões azuis. 
A menina de saia azul.
Os vizinhos todos. Todos eles andam a procura de agua. 
Cada um com o seu bidão.
Alguns, mais sortudos, chamam um camião. 
Mas para secar a roupa, o regime é o mesmo para todos. 
Felizmente, até hoje, o vento não cobra nada.
Peixe, viste o mar? 
Menina, viste o peixe?
Peixe, não fica de boca aberta. 
Menina, faz favor, dá-me um copo de agua. 
Acabei de contar uma pequena historia e estou com sede.


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